CONHEÇA ESSA HISTÓRIA




CONHEÇA ESSA PRIMEIRA  HISTÓRIA

Relato da Agente Comunitária Adriana Amaral 
da equipe Quatro Bicas da CF Felippe Cardoso







Estava na unidade quando fui procurada por um usuário me pedindo ajuda para ir até a casa de outro usuário – que passarei a chamar Senhor X - que é seu amigo. Ambos moravam no meu território. Ele explicou que na segunda feira os dois haviam conversado e o Senhor X estava muito bem, mas na terça-feira ao visitá-lo soube que o mesmo passou o dia dormindo profundamente sem interagir com ninguém - algo para a família sem explicação e bastante preocupante.

Imediatamente fui até a casa do Senhor X, toquei a campainha e fui atendida por uma mulher loira que se identificou como amiga dele. Ela, que passarei a chamar de – mulher loira - passou a explicar que estava com ele no dia em que aconteceu o desmaio, relatou que estavam conversando na sala e que ele só falava do passado, quando de repente lembrou-se de tomar um remédio e ao se levantar para ir até a cozinha pegar o comprimido teve um pequeno desmaio, mas, não chegou a cair no chão porque ela o segurou a tempo e o arrastou até a cama.






Antes de prosseguirmos com a história gostaria que conhecessem um pouco da história de vida do Senhor X.





Ele é meu usuário desde que a CF Felippe Cardoso inaugurou, tem 83 anos, é um homem que não aparenta a idade, bem disposto e simpático. Era casado com a Senhora X há mais de 60 anos, porém, sua companheira faleceu há cerca de 1 ano. O casal foi por muitos anos revendedores de uma famosa marca de cosméticos. Como auxiliava sua esposa nessa tarefa Senhor X continuou com a revenda iniciada por sua esposa. Essa pessoa a – mulher loira – era uma das clientes do casal.

Voltemos ao relato...


Foi a 'mulher loira' que avisou a família do ocorrido e o Senhor X foi levado pelo enteado e a esposa ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. Lá os médicos o avaliaram e realizaram uma tomografia - não constataram nada -, fizeram um exame de sangue que apresentou uma infecção pulmonar, foi medicado com amoxicilina e liberado.

Após uns dias, a família continuava bastante preocupada com o fato dele dormir o dia inteiro, pouco interagia, não conseguir engolir, apresentava dificuldades na respiração e com isso não estavam conseguindo administrar a medicação prescrita  e ficaram com medo dele bronco aspirar.

Na visita que fiz ao Senhor X, tentei conversar com ele, em nada lembrava a pessoa tão dinâmica que conhecia. Percebi que ele tinha momentos rápidos de lucidez e voltava a dormir profundamente. Realmente aquilo não era normal. Também fiquei muito preocupada. Tinha que fazer alguma coisa. Voltei para a unidade e pedi ajuda. Como era folga do médico da minha equipe falei com o gerente da unidade que solicitou que o médico e preceptor Valter ouvisse todo o relato e me orientasse sobre a melhor conduta a fazer. O médico de família pediu que perguntasse a família se poderia trazê-lo até a unidade para avaliação. Liguei para família que confirmou que o traria e também os exames realizados na emergência do hospital.
A mulher loira também veio com a família.

Chegando a clínica o Senhor X foi acolhido na sala de apoio onde foi examinado pelo Dr. Valter que solicitou sua internação imediata, pois já apresentava febre.



Dr. Válter


O paciente foi levado para o CER – Coordenação de Emergência Regional, da Ilha do governador, onde ficou internado.




CER - Ilha do Governador



                             



A equipe médica do CER cuidou da infecção no pulmão, mas não conseguiam identificar o problema do sono que persistia. Os médicos ficaram desconfiados com a preocupação exagerada da ‘mulher loira’ que o visitava regulamente e questionava se haveria a possibilidade dele lembrar alguma coisa quando voltasse a si. Um dos médicos do CER desconfiou que ‘Senhor X’ havia sido sido vitima de um golpe chamado ‘boa-noite cinderela’ (crime que consiste em drogar uma vítima para roubá-la, etc.). 

 Os médicos ficaram monitorando ‘Senhor X’. Quando o usuário voltou a si o médico conversou com ele sobre o que lembrava antes de passar mal, daí ele contou que: estava em casa conversando com a ‘mulher loira’ quando ela se ofereceu para fazer um café e na hora de colocar o adoçante ela lhe apresentou um novo adoçante que havia levado para ele experimentar e daí por diante nada mais lhe vinha à memória.

O médico então ciente de que realmente ‘Senhor X’ havia sido dopado, orientou a família que verificasse se havia sumido algo em casa, na carteira, conta corrente, etc. 
A mulher loira desapareceu do hospital. Os familiares descobriam que todos os seus cartões bancários haviam sumido, a agenda com as senhas também. Foram ao banco e descobriram que a ‘mulher loira’ havia sacado o valor de 10 mil reais da conta e que inclusive havia mexido em sua aposentadoria. Foram a delegacia prestar queixa e descobriram que a tal ‘mulher loira’ que mostrava ser bastante amiga do ‘senhor X’, possuía  uma ficha extensa na policia justamente por golpes aplicados em idosos.


Dra. Natália médica residente R2  e seu receptor  Dr. Valter

Acompanhei todo o desenrolar do caso, assim como o médico da minha equipe e o Dr. Válter. Visitamos a família e procuramos saber como a ‘mulher loira’ havia se tornado tão íntima do ‘Senhor X’. Sua nora explicou que ela nunca foi bem vinda na casa, que a mesma havia conhecido a falecida esposa do ‘Senhor X’ em caminhadas que faziam pelo bairro, então se tornou cliente na compra de cosméticos. Após a morte da ‘Sra. X’, a ‘mulher loira” passou a visitar regularmente o viúvo ganhando a sua confiança, mas sem aprovação da família.
‘Senhor X’ e sua família são gratos pela pronta acolhida que tiveram dos profissionais da Clínica da Família Felippe Cardoso, assim como dos médicos da CER Ilha do Governador. Apesar de todos os transtornos físicos e financeiros, o melhor de tudo, é o fato de que “Senhor X” recuperou-se da infecção pulmonar. As sequelas emocionais e psicológicas o convívio com a família, com os amigos e com os profissionais da CF Felippe Cardoso irão ajudá-lo a superar.

                             


Como agente comunitária de saúde pensei que já havia visto de tudo um pouco em relação ao convívio diário com os usuários. Esse caso foi ímpar. Lembro-me bem da ‘mulher loira’ que acompanhou “Senhor X’ na consulta com Dr. Válter. Conversei com ela. Pareceu tão preocupada com o meu usuário. Era uma pessoa acima de qualquer suspeita. Enquanto praticamente dormia o visitava regularmente no CER onde permaneceu por uma semana. Aprendemos muito com esse caso: ter mais atenção aos idosos que moram sozinhos, procurar ajuda-los, aconselhá-los, envolve-los nas atividades das Casas de Convivência para Idosos.
‘Senhor X’ está frequentando regularmente a CFFC. Seu convívio com a família está mais estreito.



A ‘mulher loira’ simplesmente desapareceu.
A polícia está a sua procura.



                            


CONHEÇA ESSA OUTRA HISTÓRIA

Relato da Agente Comunitária Vania Marinho
da equipe São Lucas da CF Felippe Cardoso





Em um dos meu dias de visita domiciliar na minha micro área, encontrei uma moradora que ainda não conhecia.  Me apresentei  como agente de saúde responsável por aquela área, expliquei que  eu representava a Clinica da Família Felippe Cardoso e perguntei se poderia cadastrá-la para que ela fosse acompanhada pela nossa Equipe, ela respondeu positivamente e me convidou para entrar.

Enquanto eu copiava os dados e fazia as perguntas que a ficha cadastral pede, iniciamos uma conversa. Ela disse que eu nunca a encontrei em casa porque ela trabalhava muito, era doméstica. Porém, havia pedido demissão abrindo mão de todos os direitos por não estar mais se sentindo bem naquele ambiente, estava muito nervosa , muito ansiosa e num momento de explosão ela decidiu, comunicou a decisão a patroa e foi embora. Eu perguntei se a patroa a maltratava  ou coisa parecida, ela disse que na verdade não, ela que não estava mais a fim de conviver, se relacionar, estava se fechando , sentindo coisas estranhas como mal estar, palpitações, irritação e se sentia perseguida, não gostava de ficar em lugares com outras pessoas pois sentia estar sendo observada e isso a deixava muito alterada.

Como a Rosa (a chamarei assim) morava com o marido e ela não tinha algumas informações que eram importantes para o cadastro da família, eu prometi voltar no dia seguinte para terminar o cadastro. Então, no dia seguinte retornei a casa dela a fim de terminar o cadastro, eu já tinha percebido que ela não estava bem, ela me parecia  muito triste e sozinha apesar de dizer que o marido era muito companheiro e um homem, paciente e compreensivo.

Nesta segunda visita  senti que já existia um vínculo entre nós, e ela começou a falar mais abertamente das coisas que ela sentia. Rosa dizia que não via sentido pra continuar existindo, sentia aflição, angústia,  vontade de sumir, de chorar, dor de cabeça, insônia, etc., tinha pensamentos suicidas, e não sabia mais o que fazer, não via outra saída senão a morte.

 Me confidenciou também que havia tentado o suicídio duas vezes. Fiquei apreensiva, mas escutava pacientemente deixando-a vontade. Ela prosseguiu dizendo que certa vez tentou se jogar do terceiro andar da casa onde morava mas,  quando passou para o beiral foi impedida. Em outra oportunidade tomou uma caixa de remédios (Diazepan) , mas somente dormiu muito e ficou sonolenta por alguns dias.

Pensei: preciso ajudar essa mulher! O mais rápido possível!
Ela dizia não  ter um motivo pra toda aquela tristeza, segundo ela nenhum acontecimento em especial a tinha deixado daquele jeito, isso a deixava ainda mais apreensiva.
Já faziam meses que ela não saía de casa, mesmo o cigarro era o marido quem trazia, aliás, Rosa disse não querer sair nem do quarto, até mesmo a televisão ele levou para o quarto, a casa ficava sempre as escuras e com as janelas e portas fechadas.
equipe São Lucas
                     
Fiquei muito preocupada com  Rosa, é angustiante ver alguém nessa situação. Trouxe o caso para ser discutido pela minha Equipe em uma de nossas reuniões, e o Doutor Valter disse que queria uma consulta urgente para Rosa, discutimos se seria melhor ir visitá-la e realizar a consulta na casa dela, ou marcar a consulta na unidade , a equipe achou interessante marcar na unidade, e caso ela não viesse iríamos até a casa dela, dessa maneira daríamos a ela um motivo pra sair de casa e vencer  pelo menos a primeira barreira. A consulta foi marcada e fui avisar a Rosa, confesso que fui muito apreensiva, pensei que ela não aceitaria vir à unidade, mas pra minha surpresa ela se mostrou muito receptiva e disse que iria para a consulta.
Chegando de mais um dia de visitas ao território, fui saber com o doutor Valter como tinha sido a consulta. Ele disse que atendeu a Rosa junto com o  Jonas - interno em Medicina da UFRJ - e que a consulta foi muito proveitosa. Rosa veio com uma postura de pedido de ajuda, de coração aberto, chorou muito durante a consulta e foi diagnosticado Síndrome do pânico e Depressão. Doutor Valter receitou remédios e a orientou que no inicio talvez ela não notasse muita diferença, mas que lá pela terceira semana os remédios deveriam começar a surtir efeito, e por isso ele marcou pra ela retornar  3 semanas depois da primeira consulta.
Com esse feedback positivo da consulta eu não via a hora de estar com a Rosa novamente pra saber como ela estava e se ela gostou e como se sentiu. Notei que já havia alguma melhora, senti que Rosa estava mais animada, afinal, agora havia alguma esperança. Ela elogiou a atenção dos médicos, disse que estava tomando os remédios e que tinha dormido melhor naquela noite. 
Que alegria senti! Já era um grande avanço, mas não parou por aí. Na outra semana Rosa estava melhor que antes, agora já falava em voltar a trabalhar, disse que iria esperar a medicação fazer melhor efeito e logo assim  espalharia currículos nas agências. Quando Rosa disse isso eu vibrei por dentro! Nossa! ELA ESTAVA RENASCENDO!

 
Na segunda semana após a consulta, eu fui visitar uma família que mora ao lado da casa da Rosa, vi que ela bateu no vidro da janela e me chamou dizendo: vem cá Vania, tenho uma surpresa pra você!
Quando eu entrei em sua casa ela soltou os cabelos e me olhou esperando ver minha reação!  Ela tinha acabado de chegar do salão onde cortou os cabelos fez escova e sobrancelha! Ah! Que alegria!  fiquei emocionada! Isso  foi tão significativo pra mim! Eu percebi que ela entendeu que eu me importava de verdade com ela, sabia que eu ficaria muito feliz em vê-la pouco a pouco se reerguendo. A esperança voltou! A Rosa renasceu!  É uma nova mulher!  Aquela que não tinha mais vontade de levantar da cama nem sair do quarto agora vai ao salão de beleza! E me contou ainda que foi ao mercado. 
É muito bom participar disso. Gratificante demais poder ajudar , poder  levar saúde,  levar esperança! Ter empatia por todos e fazer o possível para ajudar. Trabalhar em equipe e amar o que faz!
Rosa floriu a minha vida e me ajudou também. Sou uma pessoa bem melhor depois de tê-la conhecido.
Gostaria muito de agradecer a todos da minha equipe em especial ao interno Jonas que mostrou grande ajuda e apoio a Rosa desde o início.
" A maior recompensa do nosso trabalho não é o que nos pagam por ele, mas naquilo em que ele nos transforma" (Jhon Ruskin)














 












                                                                 







 






           






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